domingo, 8 de junho de 2008

Nono fichamento

KRAUSE-VILMAR, D. “A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política” In: MILMAN, L.,VIZENTINI P. Neonazismo, negacionismo e extremismo político: Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000.


  • A negação pública dos crimes nazistas – posteriormente chamada de Revisionismo,pois seus adeptos dizem pretender revisar a história - não visava, de início, negar a matança em massa dos judeus,limitando-se a relativizar as declarações das testemunhas da época.Nas décadas seguintes, os pontos negados evoluíram respectivamente para : o número de pessoas assassinadas, as técnicas usadas no extermínio, documentos e figuras históricas que foram apresentados, os locais dos campos de morte, e a existência das câmaras de gás.

  • De início, as confrontações jurídicas resultantes destas alegações,como aquela entre a historiadora Deborah Lipstadt e o revisionista David Irving, foram bem recebidas pelos revisionistas, devido ao impacto que causavam na opinião pública,entretanto posteriormente passaram a ser evitadas, devido às condenações dos negadores.

  • Existem diversos níveis de argumentação daqueles que negam a ocorrência dos extermínios em Auschwitz. Há alguns de refutação simples e fácil ao lado de hipóteses técnicas e químicas complexas.Formação de lendas ao lado de questões e posicionamentos críticos.Invenções ao lado de questionamentos de aspectos específicos.Embora tentem se passar por pesquisadores sérios, o método que utilizam não corresponde aos princípios científicos,gerando algumas objeções metodológicas,

  • A primeira diz respeito ao tratamento tendencioso dado aos testemunhos das vítimas. Os testemunhos são meticulosamente analisados,porém utilizando-se um sistema similar aos métodos de interrogatório criminal dos sistemas totalitários.A detecção de falta de clareza na periferia de uma afirmação serve para que todo o testemunho seja considerado sem credibilidade ou valor.Testemunhos de criminosos são vistos como tendo sido obtidos por meio de tortura ou extorsão, enquanto as vítimas são sempre vistas na condição de mentirosas.

  • A segunda objeção é ligada à pretensa cientificidade com a qual a negação é defendida.A primeira vista, tem-se a impressão de pura ciência.Entretanto, visto mais de perto, o detalhismo se torna inverdade. Detalhes são arrancados de seu contexto,como o caso das pretensas declarações de guerra á Alemanha por parte dos judeus. Os revisionistas constantemente transformam documentos isolados em documentos-chave, ou afirmações de testemunhas em relatos-chave. Então sugerem que, caso se possa refutar tais testemunhos, todo o chamando "edifício de mentiras do Holocausto" viria abaixo.

  • A terceira objeção é feita em relação à descontextualização de documentos e fatos históricos. O contexto histórico-político é sempre excluído de quaisquer documentos e estudos. O detalhismo cultivado pêlos revisionistas é um detalhismo que se estende por páginas e páginas e aborda assuntos como vestígios de cianeto, ventiladores, variação de temperatura que poderiam provocar alterações no estado de agregação do gás, aquecedores, a construção dos crematórios e outros detalhes técnicos, arquitetônicos e organizacionais,para mostrar uma certa especialização. No entanto, desconsidera, por exemplo, fato de que os grupos burocráticos da SS, tanto no território do Reich como no Leste europeu, já discutiam em termos de planejamento, os chamados êxitos em forma de extermínio, que eles introduziram na prática com relação aos judeus europeus.

  • Uma quarta objeção surge do fato de que os revisionistas focam sua negação nos fatos ocorridos no campo de Auschwitz. Os demais crimes cometidos contra os judeus, como os homicídios praticados através da eutanásia e as matanças em outros campos, como Treblinka e Belzec, são apenas vistos de passagem.

  • Outro fator pouco acadêmico da argumentação revisionista é a linguagem usada,altamente marcada pelo ódio e pelo desprezo e repleta de expressões anti-semitas, em contrapondo á linguagem sóbria e objetiva que deveria ser usada em trabalhos acadêmicos.Ou seja, uma linguagem altamente desaconselhada para um trabalho deste tipo.

  • Os complexos de fontes conhecidos sobre os assassinatos cometidos nos campos como Auschwitz,Belzec e Treblinka também contribuem para descartar a tese dos revisionistas. Dispomos de fichas de trabalhadores civis em Auschwitz, documentos internos da SS, relatos de fugitivos dos campos e dados visíveis sobre a imensa capacidade dos crematórios de Birkenau.

  • O impacto causado pêlos revisionistas é difícil de se avaliar e certamente não pode ser medido. Entretanto, uma coisa fica clara quando nos ocupamos mais de perto desses autores. Seus objetivos não são genuinamente histórico-científícos. Através do questionamento, da negação, da colocação em dúvida, eles querem reabilitar Hitier e o nacionalsocialismo. Porque se Auschwitz não foi assim como acreditamos que foi, o que restaria então da condenação do nazismo,e da culpa da Alemanha?

  • De acordo com a historiadora Deborah Lipstadt, dificilmente teremos condições de discutir com os defensores do negacionismo, devido ao ponto em que eles chegaram. Entretanto, visto que a dúvida e a insegurança são disseminadas pelas perguntas que eles formulam, mesmo que tais perguntas não sejam reconhecidas, faz-se necessário, no contexto da formação política e histórica, acionar uma argumentação clara em contraposição a esses defensores da negação.

Resenha do livro “É isto um homem?”, de Primo Levi

Neste livro, Primo Levi se propõe não a fazer um relato das barbaridades cometidas nos campos de concentração na época do Holocausto, como tantos já foram feitos até o dia de hoje; mas sim a fazer uma análise psicológica da situação, perscrutando o que se passava na mente dos prisioneiros, tão duramente humilhados e forçados a trabalhos pesadíssimos, que se tornavam desumanizados.

O campo não é mostrado como não como um local repleto de barbaridades, mas como uma experiência que desnuda os aspectos mais profundos da psique humana.

“Fechem-se entre cercas de arame farpado milhares de indivíduos, diferentes quanto à idade, condição, origem, língua, cultura e hábitos, e ali submetam-nos a uma rotina constante, controlada, idêntica para todos e aquém de todas as necessidades; nenhum pesquisador poderia estabelecer um sistema mais rígido para verificar o que é congênito e o que é adquirido no comportamento do animal-homem frente à luta pela vida” (p. 88)

O livro é inteiramente focado nos conflitos psicológicos pelos quais passavam os prisioneiros.

O primeiro conflito mostrado é aquele ligado às tentativas de desumanização dos prisioneiros empreendidas pelas autoridades do Campo.A desumanização era um dos principais fantasmas que rondavam os prisioneiros de Auschwitz, além da fome,do esgotamento,das doenças,e do medo de ser escolhido em um das “seleções” periódicas dos prisioneiros que seriam mortos em Birkenau,para aliviar a superlotação do campo.Ao chegarem nos campos, os prisioneiros (doravante chamados de Häftlinge) tinham suas roupas e todos os pertences levados, seus cabelos e barbas raspados, e recebiam um uniforme padrão; a partir de então passavam a levar uma vida sem nenhum tipo de individualidade onde tudo era coletivo e todos eram tratados como animais.De acordo com Levi, após todo este processo e mais algum tempo de desgaste pelo trabalho, passava a ser impossível dizer até mesmo a idade de um prisioneiro. “Tem trinta anos, porém, assim como cada um de nós, poderia aparentar entre dezessete e cinqüenta”, diz sobre um deles.

No entanto, ironicamente eram justamente aqueles prisioneiros que não se deixavam levar por esta animalização que tinham mais chances de conseguir sobreviver por mais tempo.Levi utiliza um episódio ocorrido nos lavatórios do Campo para retratar este fato. Após uma semana no capo, encontra um companheiro de Bloco lavando-se com energia.Questiona o porquê deste ato, já que em meia hora de trabalho todos estariam sujos de novo, e lavar-se não faria ninguém viver mais, possivelmente até menos,pois é uma perda de energia.O companheiro de Levi lhe passa um sermão

Limpos e aparentando saúde, os prisioneiros tinham menos chances de ser selecionados para as câmaras de gás, e mais chances de agradar algum proeminente do campo, conseguindo assim melhores postos de trabalho.Aqueles que se deixavam levar, e abatiam-se e enfraqueciam eram chamados de muselmann, ou muçulmanos, e eram em geral aqueles que adoeciam e morriam ou eram selecionados para a morte pelo gás.Levi diz que era um desses muselmann, e conseguiu sobreviver aos horrores do Holocausto devido a três motivos de pura sorte.O primeiro foi ter sido aprisionado pelos nazistas já no ano de 1944, quando, por falta de mão de obra, os alemães já haviam se decidido a prolongar a vida útil dos prisioneiros, melhorando ligeiramente suas condições de vida, e diminuindo a constância das execuções arbitrárias.O segundo foi ser possuidor de um diploma em Química, o que possibilitou que, após mais de um ano de trabalhos forçados, em condições nas quais não suportaria outro inverno, fosse convocado a trabalhar no laboratório recém aberto no campo, salvaguardando-o do frio intenso e das privações que fizeram com que vários de seus companheiros perecessem.O terceiro e último foi estar internado com escarlatina na enfermaria do campo na ocasião de sua evacuação, sendo deixado para trás junto com outros doentes á mercê dos russos, que possibilitaram sua cura.A grande maioria dos prisioneiros que deixaram o campo juntamente com os SS, simplesmente desapareceu durantes o percurso.

Outro dos conflitos mostrados se liga à inversão de valores (ou a falta deles) ocorrida no Campo, principalmente no capítulo “Aquém do bem e do mal”.Neste capítulo é explicitado como delitos como roubos eram parte importante da vida no Campo.Sem recorrer a este método, era impossível conseguir alguns objetos de primeira necessidade, como colheres para comer a sopa quase líquida que era alimentação diária dos prisioneiros.Como conseqüência dos roubos, havia também um alto nível de contrabando, sobretudo entre os prisioneiros do Campo e os trabalhadores externos da fábrica.Este contrabando era expressamente proibido pelo Regulamento do Campo resultando em punições tanto para o Häftling quanto para o trabalhador envolvido.No entanto, era altamente incentivado pelos SS, enquanto o roubo no campo, severamente reprimido por estes, era uma operação normal para os civis, numa clara amostra da inversão de valores existente.

“Em conclusão: o roubo na fábrica, punido pelas autoridades civis, é autorizado e incentivado pelos SS; o roubo no Campo, severamente reprimido pelos SS, é considerado pelos civis como operação normal de troca; o roubo entre Häftlinge, em geral, é punido, mas a punição toca, com igual gravidade, tanto ao ladrão quanto à vítima. Desejaríamos, agora, convidar o leitor a meditar sobre o significado que podiam ter para nós, dentro do Campo, as velhas palavras “bem” e “mal”, “certo” e “errado”. Que cada qual julgue, na base do quadro que retratamos e dos exemplos que relatamos, o quanto, de nosso mundo moral comum, poderia subsistir aquém dos arames farpados.” (p. 87)

No entanto, mesmo com todos estes conflitos, os prisioneiros precisavam pensar em sobreviver. Este ponto se liga com a principal teoria por detrás do livro, que diz que “a ação humana só pode ser julgada individualmente, caso a caso”. Esta mesma teoria que faz com que Levi não julgue os oficiais nazistas como um todo de bárbaros assassinos, também é utilizada em relação aos próprios prisioneiros.

Dentro do Campo, cada homem era o responsável pela sua própria salvação.Para isso, era preciso adequar-se à vida no campo. Isso muitas vezes significava ser cruel com os outros prisioneiros, conseguindo assim um nível de vida notadamente melhor do que dos demais.Este era o caso doa kapos, prisioneiros proeminentes que eram designados pelos SS como chefes dos blocos onde os prisioneiros dormiam, sendo muitas vezes os principais responsáveis pela ordem do campo e pelos castigos que a quebra desta ordem acarretavam.

Inclusive, Levi mostra que apenas lamentar-se era a pior coisa que um prisioneiro de Auschwitz devia fazer se quisesse sobreviver.No Campo, cada homem era o responsável pela sua própria salvação, e se adequar ao sistema vigente, e não se deixar abalar pela desumanização dos prisioneiros que era o principal objetivo do Campo era o melhor modo de conseguir sobreviver àquela experiência.Isto é bem mostrado no capítulo entitulado “Os submersos e os salvos”, no qual Levi analisa os casos de quatro prisioneiros que, por seus talentos no trabalho ou por suas habilidades pessoais, conseguiram permanecer no Campo sem sofrer demasiadamente.Assim, é mostrado que nem todos nos campo eram apenas vítimas desprotegidas, alguns chegando a serem mais cruéis que os próprios oficiais da SS.

Outro problema exposto por é o da memória dos acontecimentos dentro do Campo. Em vários trechos e comentado que o que acontecia dentro do campo não era para os olhos humanos verem, não era para ser sabido.No capítulo “As nossas noites”, Levi expões que era muito comum entre os prisioneiros sonhar que estavam de volta as casas, cercados por seus entes queridos, contando o que havia acontecido no ambiente do campo; mas sem que ninguém parecesse ouvi-los.

Levi põe em voga se a questão que muitos teriam, se realmente conviria que desta situação humana restasse alguma memória.Responde a esta pergunta com um sim, argumentando sobre a importância desta experiência.

“Estamos convencidos de que nenhuma experiência humana é vazia de conteúdo, de que todas merecem ser analisadas; de que se podem extrair valores fundamentais (ainda que nem sempre positivos) desse mundo particular que estamos descrevendo.Desejaríamos chamar a atenção sobre o fato de que o Campo foi também (e marcadamente) uma notável experiência biológica e social” (p.88)

Concluindo, pode-se dizer que o livro é importante por ir além da ótica geral utilizada pelos estudos sobre o Holocausto, que muitas vezes pecam ao ver os acontecimentos de forma superficial e simplista.Levi,pelo contrário, leva a interpretação dos acontecimentos a um outro nível., que apenas quem vivenciou aquelas situações poderia levar.É um livro essencial para o entendimento do Holocausto do ponto de vista do dia-a-dia dentro do Campo.

Resenha do filme “O triunfo da vontade”,de Leni Riefenstahl

“Triunfo da vontade” (no original em alemão “Triumph des Willens”) é um filme de propaganda nazista datado de 1934, documentando o congresso Partido Nazista ocorrido em Nuremberg naquele mesmo ano. É considerado o mais conhecido filme de propaganda política de história.

Sua cineasta, Leni Riefenstahl, é a mais conhecida cineasta propagandista do nazismo.São de sua autoria os mais famosos filmes produzidos por este movimento,dentre os quais Olympia,documentando os Jogos Olímpicos de verão de 1936,na Alemanha; e o aqui discutido. Várias de suas técnicas de filmagem fizeram história por serem incomuns na época,passando a posteriormente a ser usadas em larga escala em filmes, documentários, comerciais e produções cinematográficas em geral.

Os ângulos utilizados por Riefensthal servem para enaltecer a impressão de superioridade e poder que os nazistas tanto estimavam, e que tanto tentavam manter em torno de si. Closes vindos de baixo, câmeras ao nível do chão quando filmando soldados em marcha, todos esses eram artifícios usados para mostrar a imponência do Terceiro Reich.

Os aspectos mais extrovertidos e supostamente bondosos do nazismo também têm grande destaque no filme. Jovens membros da Juventude Hitlerista são mostrados se divertindo em jogos e brincadeiras que fortaleciam o companheirismo e a confiança entre eles. Moradores de cidades do interior são mostrados em desfile usando exuberantes roupas típicas, uma tentativa de resgate dos valores da Alemanha anterior à modernidade.Trabalhadores são mostrados fazendo discursos e entoando canções de apologia a união, e posteriormente sendo incentivados por Hitler a terem orgulho de sua condição.

No entanto a característica mais visível no filme é a extrema organização dos eventos nazistas. Durante as paradas os soldados marchavam sempre na mesma formação e velocidade, dando a impressão de autômatos que nunca se cansam. Durante as aparições públicas do Führer a multidão sempre se comportava e não fazia nenhum tipo de tumulto, seja em desaprovação, ou numa tentativa de ganhar a atenção de Hitler, como visto em diversos movimentos políticos. Nenhuma manifestação fora de lugar acontecia, nenhum imprevisto parecia ser tolerado.Todos estavam sempre em seus lugares e todos sabiam exatamente o que fazer durante todo o tempo.

É um filme brilhante de propaganda política, que mostra todos os aspectos que seriam considerados “positivos” do Terceiro Reich.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Oitavo Fichamento

VIZENTINI, P.F., “O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica e conceitual” In: MILMAN, L.,VIZENTINI P. Neonazismo, negacionismo e extremismo político: Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000.

  • O texto aborda diferentes questões: neonazismo, extrema direita (pois todo fascismo faz parte da extrema direita, mas nem toda extrema direita é fascista) e extremismo político (um fenômeno mais amplo).Também pontua a diferença entre um partido político, com filiados, militantes, slogans e bandeiras; um movimento político mais amplo,sobretudo um eleitorado,que na maior parte das vezes não é parte permanente destes grupos, e possui características diferenciadas; e o fenômeno das gangs,como os grupos de skinheads,verdadeiras tropas de choque.Mostra assim como nem sempre são as mesmas pessoas as responsáveis pelos movimentos neonazistas.

  • O autor divide a análise do problema em duas partes: o nascimento, expansão derrota e hibernação dos movimentos nazistas; e seu ressurgimento e o pano de fundo dos anos 80 e 90 onde isso aconteceu.

  • Em 1945, o fascismo foi derrotado, mas não eliminado.Regimes de perfil fascista, como o de Franco na Espanha e Salazar em Portugal, negociaram com as potências vencedoras e se mantiveram no poder ainda por mais 30 anos, participando inclusive (juntamente com o regime dos coronéis gregos nos anos 60 e 70) da OTAN. Por que então somos surpreendidos pelo forte ressurgimento destes movimentos?

  • Outro problema do resultado da Segunda Guerra Mundial,que permitiria uma sobrevida ao fascismo como um “bulbo que hiberna em baixo da terra”,foi o fato de que a guerra começou como uma tentativa de esmagar tudo aquilo que fosse ligado á esquerda e ao socialismo.O resultado obtido foi exatamente o contrário, salpicando diversos países de militantes comunistas.Com a posterior divisão da Europa em dois blocos liderados pelos EUA e a URSS, as particularidades de vários países não foram atendidas. Países de esquerda forte, como França, Grécia e Itália foram aderidos ao bloco capitalista. Para reconstruir o espectro político destes países e criar grandes formações de centro ou centro-direita,a estratégia usada foi

  • Com a necessidade de reconstruir a economia dos países derrotados na guerra,e com o advento do plano Marshall,nota-se um crescente abrandamento os julgamentos dos prisioneiros de guerra,sobretudo aqueles que haviam sido mais ativos na manutenção desses regimes, como no caso da família Krupp,na Alemanha.Obviamente foi feita uma inflexão no discurso, escondendo estes indivíduos atrás da bandeira do anticomunismo.Essa estratégia foi muito importante para manter a vida política nestes locais, combatendo os grandes partidos de esquerda e os sindicatos, extremamente fortes em vários destes países.

  • Houve também os casos daqueles que, por seus conhecimentos técnicos se tornaram de extrema importância para as potências emergentes, como por exemplo, Werner Von Braun, pai dos foguetes americanos, e antes disso, pai dos foguetes alemães.Houve também os regimes de solidariedade nos EUA, no Canadá e na América do Sul, que levaram vários nazistas proeminentes a se refugiar nestes locais.Alguns elementos fascistas encontraram forma de serem úteis na Guerra fria assessorando regimes obscurantistas e brutais; ou engajando-se em guerras coloniais, nas Forças Aramadas de seus países, ou como mercenários.

· A crise do petróleo nos anos 70, somada às diversas revoltas políticas no chamado Terceiro Mundo e o surgimento de alguns capitalismos bem sucedidos nestes países, fazem com que as elites e segmentos da classe média européia trocassem a simpatia que sentiam pelos países periféricos (de certa forma um tipo de “alívio da consciência de seu próprio passado) por um constante sentimento de preocupação e medo.Somando-se a isso a reorganização da economia mundial que fazia com que alguns setores do Primeiro Mundo necessitassem de mão-de-obra mais barata, e a conseqüente onda de imigração cria-se uma exacerbada xenofobia, base para o surgimento de diversos movimentos neonazistas.

· Outro fator que se torna importante nesse aspecto é o desmoronamento, na década de 70, dos regimes de caráter fascista que ainda existiam na Europa (o franquismo espanhol, Portugal de Salazar e o regime dos coronéis gregos.).Curiosamente, isto serviu como a “ponta de lança” para que a extrema direita começasse a se reorganizar abertamente.Supostamente, a existência daqueles regimes havia servido de consolo, e com o seu fim as extremas direitas de seus países vêem a necessidade de se reorganizar.

  • Durante a década de 1980, a retomada do liberalismo na economia e da Guerra Fria na política internacional trazem desemprego, incertezas e desencantos; além de uma nova ideologia enaltecedora da violência. A população européia começa a ver sua noção de progresso prosperidade e segurança ser perdida.Estas tensões sociais encontram uma válvula de espace na xenofobia e no racismo, retratada nos movimentos de hooligans e skinheads,por exemplo.

  • Na periferia exasperada pela crise econômica, pela falência do reformismo e de todos os regimes que tentaram manter-se no poder, os homens tendem a apoiar-se no passado, ressurgindo assim formas atávicas, como a restauração do Islã de um modo que nem sequer chegou a existir. Também nos estados ocidentais podemos perceber isto,embora de forma mais sutil,quando a religião passa a ser uma categoria política.

  • Com o fim da URSS e da Guerra Fria, esse processo adquire projeção geométrica, através da globalização, que produz fragmentações pelo mundo, gerando uma crise social e econômica onde as esquerdas reclamam mais da exclusão do que da exploração. Os neonazistas começam a fazer ações principalmente nos países do Leste europeu recém-saídos do comunismo.Nestes países, os últimos anos do comunismo foram negativos no âmbito econômico, e a transição para o capitalismo gerou forte desemprego, gerando um desencanto muito rápido. Assim, a extrema-direita, o nacionalismo e a xenofobia começam a surgir em países que não possuíam estruturas capazes de lidar com este fenômeno.A culpa recai sobre o comunismo.

  • A globalização causa também um enfraquecimento do Estado nacional, levando á criação de uma nova forma de nacionalismo chamada por alguns autores de micronacionalismo ou nacionalismo tribal.Começam a se recriar entidades supostamente étnicas, gerando movimentos separatistas e racistas, que abrem espaço para idéias neonazistas.Inclusive há conflitos “racistas” dentro das mesmas raças, baseados geralmente em melhores condições de vida de uma facção dentre estes grupos.

  • O risco do ressurgimento do nazismo surge no momento de hiato de pânico que estamos vivendo, entre o esgotamento, declínio e até colapso de uma ordem existente e o não conhecimento do que irá substituí-la. E em um possível amanhã, quando os temores estiverem mais acentuados, este risco poderá desencadear impulsos ainda mais graves, e será tentador procurar bodes expiatórios, assim como fez Hitler com os judeus.

sábado, 31 de maio de 2008

Resenha do filme "Arquitetura da destruição"

Neste documentário, o diretor Peter Cohen busca basicamente mostrar o projeto nazista de limpeza e embelezamento da sociedade pelo ponto de vista da arte e da cultura,ponto muitas vezes deixado de lado pelos estudiosos do nazismo.

Hitler é apresentado como um pintor frustrado, amante da ópera e com ambições de se especializar na arte da arquitetura. É mostrado como o Führer passava boa parte de seu tempo analisando maquetes de projetos de embelezamento e melhoramento arquitetônico para a futura Berlim, e para sua cidade natal na Áustria.

Hitler também era amante da ópera, principalmente de Wagner.Para ele, a obra de Wagner continha todos os princípios que a sociedade alemã devia seguir.Inclusive,teria sido uma ópera de Wagner chamada Rienzi, que Hitler assistiu quando jovem, que primeiro teria plantado a semente das idéias nazistas em sua mente.Rienzi conta a história de um líder popular na Roma medieval que lutaria contra os nobres corruptores de costume para levar ao povo romano melhores condições de vida,nos moldes da Roma antiga.Posteriormente, Hitler teria dito sobre o momento em que primeiro assistiu a peça “Foi ali que tudo começou”.

Sua fixação pela obra Rienzi (que chegou a assistir mais de quarenta vezes), se liga a outra fixação de Hitler que muito influenciou seus ideiais: a história antiga.Um de seus maiores desejos era construir prédios iguais ou superiores em beleza e imponência àqueles erigidos pelas antigas civilizações grega e romana; e que, ao serem escavados por arqueólogos em um futuro distante, fossem motivo de grande admiração.Sua fixação em história antiga também exerceram influência em suas táticas de guerra,como a destruição total das cidades de seus inimigos e a escravização de seus prisioneiros.Em alguns momentos estas estratégias colidiam com seu amor pela arte,como foi o caso de Paris, que Hitler se recusou a destruir.Afirmou no entanto,que quando a nova Berlim estivesse pronta,Paris seria apenas uma sombra.

Mas não era só no âmbito da vida particular de Hitler que a arte era importante para a ideologia nazista.De acordo com a propaganda nazista, a arte moderna era o símbolo da degeneração física e moral ligada os judeus e comunistas, que deveria ser eliminada.Comparações foram feitas pelo arquiteto nazista Paul Schultze entre obras de arte moderna e registros fotográficos de deformidades físicas.Estas comparações foram mostradas ao público através de uma exposição chamada “Arte Degenerada”.Paralelamente a esta, e antes e depois de sua ocorrência, diversas exposições mostrando exemplos de como deveria ser a “arte sadia” foram organizadas.Geralmente, o maior comprador das obras expostas era o próprio Hitler.

O documentário mostra ainda como esta influência da arte ligou-se a um padrão de estética e higiene que deveria ser seguido por todos.Há como exemplo o caso do “Beleza no trabalho”, projeto pelo qual prédios de fábricas e usinas deveriam sofrer reformas arquitetônicas a fim de serem embelezados; e aos seus funcionários deveriam ser ensinadas rígidas noções de higiene. De acordo com os idealizadores do projeto, uma vez limpos e asseados, os operários deixariam de sentir-se parte da classe proletária, identificando-se com as elites quem combatiam.Teria o fim, assim, a luta de classes.

Infelizmente, estas medidas estéticas e higienizadoras ganharam um caráter mais sombrio ao serem usadas como justificativa para a eliminação das minorias.Os judeus, dentre outros povos, foram igualados a vermes e bactérias, que deveriam ser eliminados para se atingir a saúde da sociedade.O filme mostra como Hitler chegou a ponto de se comparar ao doutor Robert Koch, descobridor do “Bacilo de Koch”, causador da tuberculose; alegando ter descoberto o vírus dos judeus e estar tomando as providências necessárias para eliminá-los.

Resumindo, o filme mostra que o projeto nazista de limpeza da sociedade não foi um projeto sem bases, ou com bases aleatórias; no entanto faz ou espectadores entenderem que o fato de ser um apaixonado por artes e pintor frustrado não faz de Hitler um ditador menos radical e cruel. Mostra que ambos os lados da moeda estavam intrinsecamente interligados no projeto nazista, um não podendo ir para frente sem o outro.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Documento especial : a cultura do ódio

Documentário sobre o neonazismo brasileiro exibido pelo SBT em 17 de setembro 1992 como parte da série "Documento Especial". Após sua exibição, a equipe do programa enfrentou um processo por (pasmem!) apologia ao nazismo, oq ue não impediu que cerca de 20 integrantes de movimentos neonazistas fossem presos devidos às denúncias veiculadas.

Carecas do subúrbio,White Power,Siegfried Ellwanger,Armando Zanine Jr. e outras "celebridades" do neonazismo brasileiro







Sexto fichamento:

PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo 7

  • Embora o marco inicial do fascismo seja fácil de ser localizado, o marco final é mais complicado.O fascismo teria acabado?Haveria a possibilidade de um Quarto Reich ou algo equivalente estar sendo planejado?Existiriam condições para que algum tipo de neofascismo viesse a se tornar um agente poderoso o suficiente para exercer influência sobre as políticas de um sistema de governo?

  • A posição mais comum é de que embora o fascismo ainda esteja vivo, as condições que permitiram sua chegada ao poder deixaram de existir. Acontecimentos do pós-guerra como a globalização da economia, o triunfo do consumismo individual e o declínio da disponibilidade da guerra como instrumento político; somados ao horror que o fascismo clássico gerou, seriam suficientes para barrar o ressurgimento de algum tipo de fascismo. Ernst Nolte é o mais notório defensor desta visão. No entanto, acontecimentos da década de 1990 puseram em dúvida essa concepção.

  • Concepção do autor: acreditar ou não na possibilidade da recorrência do fascismo depende do que entende-se por fascismo.Se entendermos o renascimento do fascismo como o surgimento de algum equivalente funcional, e não uma réplica exata dos movimentos no início do século XX, essa recorrência se torna possível.Mas é preciso entendê-la através de uma comparação inteligente da forma como funciona, e não de uma atenção superficial a seus símbolos exteriores.

  • Fascismos pós 1945: Na Alemanha, quando da ocupação dos Aliados, cerca de 15% a 18% da população ainda era favorável ao nazismo.No entanto, a direita radical foi enfraquecida devido à cisões internas.

Na Itália, o Movimento Sociale Italiano (MSI) teve uma existência mais significativa por ser o único herdeiro direto de Mussolini, conseguindo alguns bons resultados diante de ameaças comunistas; entretanto continuou politicamente isolado.

Na França, os colaboradores expurgados da França de Vichy se juntaram aos anticomunistas e aos desiludidos com a fraqueza da Quarta República, incentivados pelos fracassos franceses nas guerras coloniais, principalmente na Argélia; e pela amargura dos pequenos comerciantes e camponeses oprimidos pela modernização urbana e industrial da década de 1950.

Na Grã-Bretanha a estrema direita mobilizou ressentimentos contra a imigração colonial, mas por ser mais abertamente extremista que a maioria, não alcançou sucesso eleitoral.

· Décadas de 1980 e 1990: Seria esperado que os movimentos saudosistas do fascismo diminuíssem com o fim das gerações que apoiaram o fascismo e o fim das principais organizações de extrema direita do pós-guerra; mas as mudanças nas esferas social, econômica e cultural trazidas pela crise do petróleo na década de 1970,com as quais o governos convencionais não souberam lidar, levantaram novas questões e prepararam um novo público uma segunda geração de movimentos e partidos de extrema direita

sábado, 10 de maio de 2008

Quinto fichamento

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto.Rio de Janeiro, Jorge Zahar,1998.Capítulo “Singularidade e normalidade do Holocausto”

  • A tese principal é mostrar que o Holocausto não foi simplesmente um fato sem explicação perpetrado por loucos.A singularidade do Holocausto não vem de ter exterminado um número elevado de indivíduos, mas sim do modo como isso ocorreu,dentro de um planejamento altamente racional e organizado.

  • Há duas razões pelas quais o Holocausto não deve ser visto como um assunto de interesse exclusivamente acadêmico ou reduzido à matéria de pesquisa histórica e contemplação filosófica: o fato de o Holocausto não ter mudado significativamente o curso da história, deixando as ciências intactas; e porque aqueles produtos da história que continham a probabilidade do Holocausto não foram mudados.Se havia algo na ordem social de 1941 que tornou possível o Holocausto, não podemos ter certeza que isto foi eliminado da sociedade atual.

  • Muitas características da sociedade contemporânea encorajam este tipo de genocídio.Dentro de certos limites políticos e militares, o Estado moderno pode fazer o que bem entender àqueles sob seu controle.

“O estado territorial soberano reivindica, como parte integral de sua soberania, o direito de cometer genocídio ou promover massacres genocidas de povos sob o seu governo e. a ONU, para todos os efeitos práticos, defende esse direito” (Leo Kuper)

· No entanto, deve-se evitar a noção de que, cada vez mais, as condições de um indivíduo na sociedade atual se assemelham às condições de vida de um prisioneiro em Auschwitz. Bauman considera este tipo de afirmação um produto de exagero e alarmismo indevido.Questiona, inclusive, sua contraproducência: “se tudo que conhecemos é como Auschwitz, então pode-se viver com Auschwitz e em muitos casos viver até razoavelmente bem.”

· A sociedade moderna não é responsável pelo Holocausto, uma vez que o ódio comunitário mortífero sempre esteve entre nós.No entanto foi um os fatores que o desencadearam.

“Pelo fato de o Holocausto ser moderno, não segue que a modernidade é um Holocausto. O Holocausto é um subproduto do impulso moderno em direção a um mundo totalmente planejado e controlado, uma vez que esse impulso deixe de ser controlado e corra a solta. A maior parte do tempo, a modernidade é impedida de chegar a este ponto. Suas ambições chocam-se com o pluralismo do mundo humano; elas não se realizam por falta de um poder absoluto suficientemente absoluto e de um agente monopolista para conseguir despreza, deixar de lado ou esmagar toda a força autônoma e portanto,compensatória e suavizante.” (p. 117)

· Existem duas circunstâncias, separadamente inofensivas, que nas raras vezes em que se encontram, levam a um caso de genocídio moderno: uma elite de poder ideologicamente obcecada; e facilidades de ação racional e sistêmica desenvolvidas pela sociedade moderna.De acordo com Bauman:

“O Holocausto moderno é único num duplo sentido. É único entre outros casos de genocídio porque é moderno. E é único face a rotina da sociedade moderna porque traz à luz certos fatores ordinários da modernidade que normalmente são mantidos à parte.” (p. 118)

· O genocídio moderno, do qual o Holocausto é o maior expoente, não é simplesmente baseado em raiva ou fúria, devido à ineficiência destes sentimentos como instrumentos de extermínio em massa, pois normalmente exaurem-se antes de concluída a tarefa. Os genocídios modernos são empreendimentos em grande escala, superiores em todos os aspectos, caracterizando-se por uma ausência quase absoluta de espontaneidade e pelo predomínio de um projeto cuidadosamente calculado e racional.

· Os genocídios modernos não se baseiam puramente no extermínio por puro ódio racial ou motivos semelhantes.Livrar-se do adversário não é um fim em si. É um meio de atingir uma sociedade melhor e radicalmente diferente. Bauman utiliza a metáfora do jardineiro para explicar este fato. O jardineiro não destrói as ervas daninhas que crescem em seu jardim simplesmente por serem ervas daninhas, mas para manter a ordem e a beleza do jardim.Do mesmo modo, a cultura moderna define-se como um projeto de vida ideal e um arranjo perfeito das condições humanas. Para tanto, os indivíduos considerados “daninhos” devem ser identificados e neutralizados.

· Este modo de ação burocrático utilizado nos casos de genocídio moderno contém todos os elementos técnicos que se revelaram necessários à execução de tarefas genocidas.São alguns deles:

· A divisão hierárquica e funcional do trabalho: este tipo de divisão auxilia o uso da violência, pois cria uma dissociação entre os meios, submetidos à critérios instrumentais e racionais,e a avaliação moral do fim.Esta dissociação, em geral, é resultado de dois processos: a meticulosa divisão funcional do trabalho e a substituição da responsabilidade moral pela ética.

· A divisão funcional do trabalho cria uma distância entre a maioria dos contribuintes para o resultado final da atividade coletiva e o resultado em si.O que esta distância significa no caso estudado, é que a maioria dos funcionários da hierarquia burocrática pode dar ordens sem pleno conhecimento dos seus efeitos.Para estes, os resultados são no máximo representados sob a forma de gráficos ou diagramas.

· O segundo processo, a substituição da responsabilidade moral pela técnica, está intimamente ligado ao primeiro.Em uma graduação puramente linear do poder, poderia haver um conflito de consciências entre a ordem dada e a responsabilidade moral da pessoa incumbida de executá-la.Na divisão funcional, esta possibilidade é eliminada, pois o trabalho é dividido entre os vários indivíduos, não cabendo a nenhum deles a compreensão de seu todo.Resta apenas a responsabilidade técnica, na qual o ato de que a ação é um meio para conseguir algo além dela mesma é esquecido.O indivíduo preocupa-se somente em fazer seu trabalho do melhor jeito possível.

· A desumanização dos objetos da operação burocrática: em resumo, esta tendência consiste na redução, devido ao distanciamento, dos objetos visados pela operação burocrática a um conjunto de medidas puramente quantitativas.Como mencionado anteriormente,para os funcionários de alto escalão,os resultados das suas ações apenas chegam sob a forma de números e estatísticas.Reduzidos a esta condição,os objetos humanos perdem sua identidade..Uma vez cancelados como indivíduos potenciais de demandas morais, os objetos humanos são vistos com indiferença ética.Objetos humanos tornam-se então um mero “fator incômodo”.

· Mas que papel este tipo de burocracia exerceu no caso isolado do Holocausto?O espaço entre a idéia do extermínio judeu e sua execução foi completamente preenchido pela ação burocrática.Embora não tenha dado início ao medo da contaminação racial, a ação burocrática certamente forneceu as bases para que este tenha se desdobrado no Holocausto.A burocracia, por sua rotina e ímpeto, também contribuiu coma duração do Holocausto quando a derrota alemã já era iminente.Por fim, gerou a ambição de levar um aparato de limpeza racial tão eficiente a outros territórios, deixando como único destino possível aos judeus a execução em massa.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Quarto fichamento

HOBSBAWM, E.J. “Contra o Inimigo comum”, IN: A Era dos Extremos: O breve século XX 1914 – 1991. Companhia das Letras, 1995.

· Objetivo central do texto: mostrar o contexto geopolítico do nazismo e suas conseqüências nas relações internacionais.

· A mobilização contra a Alemanha nazista foi uma situação histórica excepcional, que possibilitou a aliança entre países de interesses diametralmente opostos,como EUA e URSS.O motivo para isso foi que a Alemanha de Hitler era não só um Estado-nação descontente com sua situação e ávido por tomar de volta o que consideravam como seu de direito,mas um Estado cuja política e ambições eram determinadas por sua ideologia.Até então uma aliança como esta era considerada impossível, e apenas foi viável pois foi baseada na natureza do inimigo, e não na dos aliados.

· A mobilização do potencial de apoio contra o fascismo foi um triplo apelo pela união de todas a forças políticas com o interesse comum de resistir ao avanço do eixo;por uma política real de resistência; e por governos dispostos a executar essa política.Era provável que o apela à unidade antifascista obtivesse respostas rápidas, pois o fascismo combatia todos os tipos de governos liberais, socialistas, comunistas ou democráticos.Mas embora tenha unido as esquerdas, não incrementou sua votação nas eleições, mobilizando mais facilmente as minorias do que as maiorias.

  • Dificuldades para a mobilização contra o fascismo: os diversos países tinham outros interesses que os dividiam.Além de uma relutância geral em entrar em um acordo com a URSS e o medo de uma ameaça comunista, outros fatores como a geografia, história e economia de cada país; a democracia liberal que dificultava a tomada de uma; e as lembranças traumáticas da Primeira Guerra Mundial geravam o receio de uma atitude radical.

  • Política de apaziguamento: fracassou, devido a impossibilidade de negociações com a Alemanha, foi extremamente irrealista para enxergar a situação; foi em parte responsável por começar a guerra em um local e momento desfavorável para todos ( a outra parte da responsabilidade cabe ao próprio Hitler); e dificultou a preparação para a mesma.

  • Guerra Civil espanhola: apesar de a Espanha sempre se manter afastada das políticas do resto da Europa, a guerra atraiu a atenção de diversos países por retratar os principais problemas políticos da época: de um lado democracia e revolução social; do outro, a contra revolução e a reação com influências fascistas.

  • Movimentos de resistência europeus: seu maior significado foi político e moral, sua importância militar foi insignificante e não decisiva (talvez com exceção da Rússia e dos Bálcãs) antes da Itália retirar-se da guerra. Pendiam em geral para a esquerda, devido à internacionalidade do comunismo e a convicção que seus partidários tinham em dedicar suas vidas a uma causa.Contudo, os comunistas não tentaram estabelecer regimes revolucionários em parte alguma.As poucas revoluções que aconteceram (Iugoslávia, Albânia e China) foram feitas contrariando a vontade de Stálin e da URSS.

  • Pós-guerra: todos sabiam que seria impossível voltar ao status quo de antes de 1939.Vitória e mudança social andavam juntas.Apenas na URSS e nos EUA a guerra não trouxe nenhuma mudança social e institucional significante.

  • Tudo o que foi dito até agora se aplica apenas à Europa, em partes ao Japão e à América Latina.Para a maior pare da Ásia, África e mundo islâmico, o maior inimigo era o “imperialismo”, ou “colonialismo”.Como as principais potências imperialistas eram os países liberais, as lutas anticolonialistas e antifascistas tendiam a tomar rumos opostos.Mas por que a maior parte dos movimentos de libertação se inclinaram para a esquerda e não para os regimes fascistas?Responde-se a esta pergunta observando que a maior parte destes movimentos foi iniciada por minorias atípicas da população, não interessadas em preceitos fascistas como o racismo; e por intelectuais que haviam estudado na Europa, e que, portanto, se sentiam mais à vontade no ambiente não racista e anticolonial dos liberais, democratas, socialistas e comunistas.Além disso, a esquerda internacional era a principal fomentadora das idéias e políticas antiimperialistas.

No entanto, o comunismo conseguiu poucas vitórias nos movimentos libertadores, a nas ser nos casos como o da China, em que o antifascismo coincidia com a libertação nacional.

· No fim, durante todos os seus anos de duração, o fascismo não tinha mobilizado nada além de seus países de origem e umas poucas minorias de direita radical, conseguindo apenas alguns fracos aliados.Com sua derrota, todos os seus apoios foram perdidos. O antifascismo, por outro lado, conseguiu uma união de forças positiva e duradoura, pelo menos em termos.

Sem o fantasma do fascismo para os unir, capitalismo e comunismo voltaram a se enfrentar.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Resenha do filme Homo Sapiens 1900

Resenha do filme “Homo Sapiens 1900”, do diretor Peter Cohen.

O filme tem como temática a questão da eugenia,e sua importância para o regime nazista alemão.

A eugenia foi uma ciência criada em fins do século XIX tendo como objetivo um melhoramento genético e étnico da humanidade.A idéia principal era que a humanidade poderia ser dividida em dois grupos de indivíduos: aqueles geneticamente corretos, fortes e belos; e aqueles considerados defeituosos, com deficiências físicas ou mentais. que deveriam ser proibidos de se reproduzir, a fim de não criar novos seres imperfeitos como eles.Para o criador do termo, o inglês Francis Galton, a tendência seria que a humanidade se tornasse cada vez mais imperfeita, devido à teoria de que os indivíduos inferiores se reproduziriam mais rápido.O papel da eugenia então, seria o de corrigir esta situação, através do incentivo à reprodução dos indivíduos considerados física e geneticamente aptos, e da eliminação em longo prazo dos indivíduos defeituosos.

A eugenia era dividida em dói campos de ação: a chamada “eugenia positiva” tratava de cuidar da parte reprodutiva, analisando as características que deveriam ser mantidas nas próximas gerações, enquanto a “eugenia negativa” trataria da eliminação das características consideradas ruins ,através da esterilização dos indivíduos considerados inaptos,e da eliminação de bebês nascidos com alguma deformidade.

O enfoque principal do filme é mostrar como essa chamada “ciência”,apesar de ter um papel importante no conceito de pureza racial nazista,não se resumiu somente a isso,tendo encontrado solo fértil em diversos países e épocas diferentes.

No início do século XX, a eugenia havia se tornado uma espécie de mania mundial.A Suécia havia sido a pioneira na criação de um instituto sério para o estudo da eugenia,promovendo inclusive concursos para escolher a criança mais perfeita.Nos Estados Unidos, o médico Charles Davenport promovia campanhas para que as mães eliminassem seus filhos recém nascidos que apresentassem deformidades.Enquanto isso, leis eram aprovadas legalizando a esterilização de milhares de indivíduos.

A URSS foi um dos locais nos quais a eugenia se tornou mais forte.Cérebros de intelectuais como Lênin,Marx e Tolstói eram examinados na tentativa de criar aquilo que os soviéticos chamavam de “o novo homem socialista”.Mas com o crescimento do nazismo e suas idéias de preza racial, a eugenia passou a ser mal vista na União Soviética,até seu completo banimento deste país.

Na Alemanha, a eugenia se manifestou de modo diferente do que houve na União soviética.Enquanto na segunda o foco era no cérebro e no aperfeiçoamento das faculdades mentais,na primeira a eugenia foi mais focada no corpo e na perfeição física.O filme mostra como houveram de início,as orientação foi no sentido da eugenia positiva,com o conceito de separação entre a idéia de reprodução da idéia de amor e casamento, e tentativa de criação de “fazendas de reprodução”,onde apenas os melhores exemplares da raça humana poderiam ingressar.Esses projetos não foram implementados,pois iam radicalmente contra a moralidade burguesa,um dos pilares mais importantes do nazismo,de modo que houve uma guinada em direção á eugenia negativa.Este é um ponto muito interessante,pois mostra como a moralidade burguesa não aceitava a reprodução entre um homem e uma mulher fora da instituição do casamento,mas aceitava sem problemas o assassinato de uma criança recém nascida tendo como único motivo o fato de ela apresentar alguma deformidade física.

O filme mostra ainda como um dos principais perigos da eugenia era seu apelo popular.Massas eram seduzidas por suas idéias sem compreendê-las totalmente.Foi em parte baseado nisso que Hitler conseguiu ascender ao poder na Alemanha.

Resumindo, o filme sucede em mostrar as barbaridades cometidas em nome da eugenia em diversos países, e como essas barbaridades ficaram esquecidas diante do horror do Holocausto promovido pelos nazistas.Serve para lembrar que os nazistas não foram os vilões absolutos e inigualáveis da história, e que muitos outros povos cometeram diversos tipos de violências contra aqueles considerados inferiores.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Segundo Fichamento

PAXTON,Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo,Paz e Terra, 2007. Capítulo 1: p 13-49

  • A novidade do fascismo: foi a única das grandes correntes políticas do ocidente moderno a surgir no século XX, sendo a única corrente política a conciliar uma postura antiesquerdista com extremo apoio popular.

  • O fascismo nasceu em Milão em 1919,tendo como primeiros seguidores veteranos da 1º Guerra Mundial, sindicalistas pró-guerra e intelectuais futuristas. Seu programa era um misto de patriotismo de veteranos e experimento social radical, uma espécie de “nacional socialismo”

  • Primeiras visões sobre o fascismo: a maioria dos intelectuais da época via-no como uma revolução do povo inculto,sem bases ideológicas, causada pela degeneração moral do pós Primeira Guerra.Benedetto Croce chamou o fascismo italiano de “onagrocracia” (governo dos asnos zurrantes).Friedrich Meineke classificou o nazismo aleão como uma vitória dos Machtmeschen contra os Kulturmeschen. Alguns outros observadores perceberam que a questão era mais profunda.Os marxistas,por exemplo,viam o fascismo como um instrumento da burguesia para lutar contra o proletariado.Até hoje nenhuma interpretação foi integralmente aceita.

  • Crítica a visão geral do fascismo:olhar o fascismo superficialmente pode levar a erros irrefletidos, como por toda a responsabilidade dos acontecimentos somente na pessoa do ditador.

  • Dificuldade de enquadrar o fascismo em uma posição política do fascismo: para alguns estudiosos, os regimes fascistas vieram em auxílio ao capitalismo,sustentando o sistema vigente de distribuição de propriedade e hierarquia social.Para outros,foram uma forma radical de anti-capitalismo

  • Contradições entre a retórica e a prática do fascismo: contradição entre anti-socialismo e anti-capitalismo;esquerda e direita; entre tradição e modernidade

  • Contradição entre anti-capitalismo e anti-socialismo: embora se pronunciassem contra o capitalismo,devido aos seus interesses puramente econômicos em oposição ao bem estar da pátria, os partidos fascistas nada fizeram de efetivo nesta área,concentrando sua perseguição sobre os socialistas.O texto explica o fato

  • Contradição entre tradição e modernidade: embora pregassem uma volta às tradições e a vida bucólica, eram incentivadores de novas tecnologias.De acordo com o texto, isto se explica pela canalização dos sentimentos anti-modernistas, na criação de uma modernidade alternativa

  • Crítica ao minimun fascista: procura reduzir o fascismo a uma sentença precisa e exata, enquanto deveria-se entendê-lo como algo em movimento; e cala às perguntas que poderiam ser formuladas sobre o tema.

  • Crítica à concepção do fascismo como uma ideologia: diferente de outros “ismos” (socialismo,liberalismo), o fascismo não criado em um ambiente de discussão política civilizada, e sim direcionado para a política de massas;não baseado em nenhum grande intelectual como Marx;e não mantendo nenhum programa ou teoria fixos.

  • Reações de estudiosos à dificuldade de definir um “minimum fascista”:negar o significado do termo “fascista”,tratando cada regime como algo separado; organizar os diversos tipo de fascismo em uma lista enciclopédica excessivamente extensa; ou criar um “tipo ideal” que não corresponde a nenhum caso exato,representando uma espécie de “essência”.

domingo, 23 de março de 2008

Primeiro fichamento

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

Disciplina: Nazismo,Neonazismo e Revisionismo

Professor:Ricardo Castro

Aluna:Gisele Pimentel de Souza

DRE: 107360533

Fichamento nº 1:

SILVA,Francisco C.T. da “Os fascismos” In: REIS FILHO,Daniel Aarão, Século XX. Vol. II: O tempo das crises. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000

  • Vigorosa retomada de interesse no fascismo: recente publicação de arquivos até então desconhecidos; reunificação da Alemanha,e o boom dos movimentos neo-fascistas (inverno de 1991)

  • Abordagens do fascismo no pós guerra: mostram o fascismo como um movimento morto e incapaz de ser repetido

  • Abordagens do fascismo durante a Guerra Fria: confronto entre os esforços de identificar os fascistas e a preocupação de estabelecer o esquecimento. Interesse dos Estados Unidos em pregar o esquecimento e a absolvição das elites devido às ameaças comunistas.

  • Nova abordagem no fascismo: necessidade de criação de um novo modelo de compreensão dos fascismos não preso a conjunturas históricas, trazida à tona pelo surgimento de movimentos neo fascistas

  • Novo modelo de compreensão dos fascismos: criação de um minimum fascista baseado na comparação das experiências de diversos países, procurando contemplar tanto o caráter autônomo e universal da teoria do fascismo quanto suas especificidades históricas.

  • Principais características do fascismo: antiliberalismo e antiparlamentariasmo.

  • Antiliberalismo fascista: parte de duas frentes, a falência do sistema liberal, e o caráter desagregador do liberalismo.

  • Antiparlamentarismo: parte do pressuposto de que a existência de diversos partidos políticos leva à desagregação da sociedade, A principal missão do fascismo seria combater esta desagregação através de um estado que levasse à harmonia entre seus diversos segmentos

  • Sociedade orgânica: todos os integrantes da sociedade agem de acordo com uma mesma base, e tendo os mesmo objetivos;não precisando assim de um regime como o parlamentarismo.

  • Estado orgânico: estado apresenta-se como fator de coesão nacional, força aglutinadora do conjunto da nação, centrado na figura de um líder carismático e na hierarquia que o cercava.

  • Ideologia do fascismo: embora muitos historiadores insistam que o fascismo foi um movimento sem doutrina ou idéias,houve algo capaz de seduzir multidões,um caráter metapolítico impossível de ser entendido através da teoria política clássica

  • O Fascismo como revolução: sua proposição seria o estabelecimento de uma nova teia social baseada nas tradições do Antigo Regime,através da destruição da ordem liberal-burguesa.

  • Aproximações com o socialismo: criação de corporações para o lazer dos trabalhadores. O fascismo seria o verdadeiro socialismo por se basear nas necessidades internas dos trabalhadores de cada país,e não em modelos importados como o de Marx.

  • A destruição do eu e a negação do outro: os motivos para barbáries como o Holocausto não devem ser procurados nas vítimas, e sim nos algozes. A rígida educação nazista geraria nos indivíduos uma deficiência da capacidade de amar , o que seria o motivo principal para tais acontecimentos.