domingo, 8 de junho de 2008

Nono fichamento

KRAUSE-VILMAR, D. “A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política” In: MILMAN, L.,VIZENTINI P. Neonazismo, negacionismo e extremismo político: Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000.


  • A negação pública dos crimes nazistas – posteriormente chamada de Revisionismo,pois seus adeptos dizem pretender revisar a história - não visava, de início, negar a matança em massa dos judeus,limitando-se a relativizar as declarações das testemunhas da época.Nas décadas seguintes, os pontos negados evoluíram respectivamente para : o número de pessoas assassinadas, as técnicas usadas no extermínio, documentos e figuras históricas que foram apresentados, os locais dos campos de morte, e a existência das câmaras de gás.

  • De início, as confrontações jurídicas resultantes destas alegações,como aquela entre a historiadora Deborah Lipstadt e o revisionista David Irving, foram bem recebidas pelos revisionistas, devido ao impacto que causavam na opinião pública,entretanto posteriormente passaram a ser evitadas, devido às condenações dos negadores.

  • Existem diversos níveis de argumentação daqueles que negam a ocorrência dos extermínios em Auschwitz. Há alguns de refutação simples e fácil ao lado de hipóteses técnicas e químicas complexas.Formação de lendas ao lado de questões e posicionamentos críticos.Invenções ao lado de questionamentos de aspectos específicos.Embora tentem se passar por pesquisadores sérios, o método que utilizam não corresponde aos princípios científicos,gerando algumas objeções metodológicas,

  • A primeira diz respeito ao tratamento tendencioso dado aos testemunhos das vítimas. Os testemunhos são meticulosamente analisados,porém utilizando-se um sistema similar aos métodos de interrogatório criminal dos sistemas totalitários.A detecção de falta de clareza na periferia de uma afirmação serve para que todo o testemunho seja considerado sem credibilidade ou valor.Testemunhos de criminosos são vistos como tendo sido obtidos por meio de tortura ou extorsão, enquanto as vítimas são sempre vistas na condição de mentirosas.

  • A segunda objeção é ligada à pretensa cientificidade com a qual a negação é defendida.A primeira vista, tem-se a impressão de pura ciência.Entretanto, visto mais de perto, o detalhismo se torna inverdade. Detalhes são arrancados de seu contexto,como o caso das pretensas declarações de guerra á Alemanha por parte dos judeus. Os revisionistas constantemente transformam documentos isolados em documentos-chave, ou afirmações de testemunhas em relatos-chave. Então sugerem que, caso se possa refutar tais testemunhos, todo o chamando "edifício de mentiras do Holocausto" viria abaixo.

  • A terceira objeção é feita em relação à descontextualização de documentos e fatos históricos. O contexto histórico-político é sempre excluído de quaisquer documentos e estudos. O detalhismo cultivado pêlos revisionistas é um detalhismo que se estende por páginas e páginas e aborda assuntos como vestígios de cianeto, ventiladores, variação de temperatura que poderiam provocar alterações no estado de agregação do gás, aquecedores, a construção dos crematórios e outros detalhes técnicos, arquitetônicos e organizacionais,para mostrar uma certa especialização. No entanto, desconsidera, por exemplo, fato de que os grupos burocráticos da SS, tanto no território do Reich como no Leste europeu, já discutiam em termos de planejamento, os chamados êxitos em forma de extermínio, que eles introduziram na prática com relação aos judeus europeus.

  • Uma quarta objeção surge do fato de que os revisionistas focam sua negação nos fatos ocorridos no campo de Auschwitz. Os demais crimes cometidos contra os judeus, como os homicídios praticados através da eutanásia e as matanças em outros campos, como Treblinka e Belzec, são apenas vistos de passagem.

  • Outro fator pouco acadêmico da argumentação revisionista é a linguagem usada,altamente marcada pelo ódio e pelo desprezo e repleta de expressões anti-semitas, em contrapondo á linguagem sóbria e objetiva que deveria ser usada em trabalhos acadêmicos.Ou seja, uma linguagem altamente desaconselhada para um trabalho deste tipo.

  • Os complexos de fontes conhecidos sobre os assassinatos cometidos nos campos como Auschwitz,Belzec e Treblinka também contribuem para descartar a tese dos revisionistas. Dispomos de fichas de trabalhadores civis em Auschwitz, documentos internos da SS, relatos de fugitivos dos campos e dados visíveis sobre a imensa capacidade dos crematórios de Birkenau.

  • O impacto causado pêlos revisionistas é difícil de se avaliar e certamente não pode ser medido. Entretanto, uma coisa fica clara quando nos ocupamos mais de perto desses autores. Seus objetivos não são genuinamente histórico-científícos. Através do questionamento, da negação, da colocação em dúvida, eles querem reabilitar Hitier e o nacionalsocialismo. Porque se Auschwitz não foi assim como acreditamos que foi, o que restaria então da condenação do nazismo,e da culpa da Alemanha?

  • De acordo com a historiadora Deborah Lipstadt, dificilmente teremos condições de discutir com os defensores do negacionismo, devido ao ponto em que eles chegaram. Entretanto, visto que a dúvida e a insegurança são disseminadas pelas perguntas que eles formulam, mesmo que tais perguntas não sejam reconhecidas, faz-se necessário, no contexto da formação política e histórica, acionar uma argumentação clara em contraposição a esses defensores da negação.

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