domingo, 8 de junho de 2008

Nono fichamento

KRAUSE-VILMAR, D. “A negação dos assassinatos em massa do nacional-socialismo: desafios para a ciência e para a educação política” In: MILMAN, L.,VIZENTINI P. Neonazismo, negacionismo e extremismo político: Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000.


  • A negação pública dos crimes nazistas – posteriormente chamada de Revisionismo,pois seus adeptos dizem pretender revisar a história - não visava, de início, negar a matança em massa dos judeus,limitando-se a relativizar as declarações das testemunhas da época.Nas décadas seguintes, os pontos negados evoluíram respectivamente para : o número de pessoas assassinadas, as técnicas usadas no extermínio, documentos e figuras históricas que foram apresentados, os locais dos campos de morte, e a existência das câmaras de gás.

  • De início, as confrontações jurídicas resultantes destas alegações,como aquela entre a historiadora Deborah Lipstadt e o revisionista David Irving, foram bem recebidas pelos revisionistas, devido ao impacto que causavam na opinião pública,entretanto posteriormente passaram a ser evitadas, devido às condenações dos negadores.

  • Existem diversos níveis de argumentação daqueles que negam a ocorrência dos extermínios em Auschwitz. Há alguns de refutação simples e fácil ao lado de hipóteses técnicas e químicas complexas.Formação de lendas ao lado de questões e posicionamentos críticos.Invenções ao lado de questionamentos de aspectos específicos.Embora tentem se passar por pesquisadores sérios, o método que utilizam não corresponde aos princípios científicos,gerando algumas objeções metodológicas,

  • A primeira diz respeito ao tratamento tendencioso dado aos testemunhos das vítimas. Os testemunhos são meticulosamente analisados,porém utilizando-se um sistema similar aos métodos de interrogatório criminal dos sistemas totalitários.A detecção de falta de clareza na periferia de uma afirmação serve para que todo o testemunho seja considerado sem credibilidade ou valor.Testemunhos de criminosos são vistos como tendo sido obtidos por meio de tortura ou extorsão, enquanto as vítimas são sempre vistas na condição de mentirosas.

  • A segunda objeção é ligada à pretensa cientificidade com a qual a negação é defendida.A primeira vista, tem-se a impressão de pura ciência.Entretanto, visto mais de perto, o detalhismo se torna inverdade. Detalhes são arrancados de seu contexto,como o caso das pretensas declarações de guerra á Alemanha por parte dos judeus. Os revisionistas constantemente transformam documentos isolados em documentos-chave, ou afirmações de testemunhas em relatos-chave. Então sugerem que, caso se possa refutar tais testemunhos, todo o chamando "edifício de mentiras do Holocausto" viria abaixo.

  • A terceira objeção é feita em relação à descontextualização de documentos e fatos históricos. O contexto histórico-político é sempre excluído de quaisquer documentos e estudos. O detalhismo cultivado pêlos revisionistas é um detalhismo que se estende por páginas e páginas e aborda assuntos como vestígios de cianeto, ventiladores, variação de temperatura que poderiam provocar alterações no estado de agregação do gás, aquecedores, a construção dos crematórios e outros detalhes técnicos, arquitetônicos e organizacionais,para mostrar uma certa especialização. No entanto, desconsidera, por exemplo, fato de que os grupos burocráticos da SS, tanto no território do Reich como no Leste europeu, já discutiam em termos de planejamento, os chamados êxitos em forma de extermínio, que eles introduziram na prática com relação aos judeus europeus.

  • Uma quarta objeção surge do fato de que os revisionistas focam sua negação nos fatos ocorridos no campo de Auschwitz. Os demais crimes cometidos contra os judeus, como os homicídios praticados através da eutanásia e as matanças em outros campos, como Treblinka e Belzec, são apenas vistos de passagem.

  • Outro fator pouco acadêmico da argumentação revisionista é a linguagem usada,altamente marcada pelo ódio e pelo desprezo e repleta de expressões anti-semitas, em contrapondo á linguagem sóbria e objetiva que deveria ser usada em trabalhos acadêmicos.Ou seja, uma linguagem altamente desaconselhada para um trabalho deste tipo.

  • Os complexos de fontes conhecidos sobre os assassinatos cometidos nos campos como Auschwitz,Belzec e Treblinka também contribuem para descartar a tese dos revisionistas. Dispomos de fichas de trabalhadores civis em Auschwitz, documentos internos da SS, relatos de fugitivos dos campos e dados visíveis sobre a imensa capacidade dos crematórios de Birkenau.

  • O impacto causado pêlos revisionistas é difícil de se avaliar e certamente não pode ser medido. Entretanto, uma coisa fica clara quando nos ocupamos mais de perto desses autores. Seus objetivos não são genuinamente histórico-científícos. Através do questionamento, da negação, da colocação em dúvida, eles querem reabilitar Hitier e o nacionalsocialismo. Porque se Auschwitz não foi assim como acreditamos que foi, o que restaria então da condenação do nazismo,e da culpa da Alemanha?

  • De acordo com a historiadora Deborah Lipstadt, dificilmente teremos condições de discutir com os defensores do negacionismo, devido ao ponto em que eles chegaram. Entretanto, visto que a dúvida e a insegurança são disseminadas pelas perguntas que eles formulam, mesmo que tais perguntas não sejam reconhecidas, faz-se necessário, no contexto da formação política e histórica, acionar uma argumentação clara em contraposição a esses defensores da negação.

Resenha do livro “É isto um homem?”, de Primo Levi

Neste livro, Primo Levi se propõe não a fazer um relato das barbaridades cometidas nos campos de concentração na época do Holocausto, como tantos já foram feitos até o dia de hoje; mas sim a fazer uma análise psicológica da situação, perscrutando o que se passava na mente dos prisioneiros, tão duramente humilhados e forçados a trabalhos pesadíssimos, que se tornavam desumanizados.

O campo não é mostrado como não como um local repleto de barbaridades, mas como uma experiência que desnuda os aspectos mais profundos da psique humana.

“Fechem-se entre cercas de arame farpado milhares de indivíduos, diferentes quanto à idade, condição, origem, língua, cultura e hábitos, e ali submetam-nos a uma rotina constante, controlada, idêntica para todos e aquém de todas as necessidades; nenhum pesquisador poderia estabelecer um sistema mais rígido para verificar o que é congênito e o que é adquirido no comportamento do animal-homem frente à luta pela vida” (p. 88)

O livro é inteiramente focado nos conflitos psicológicos pelos quais passavam os prisioneiros.

O primeiro conflito mostrado é aquele ligado às tentativas de desumanização dos prisioneiros empreendidas pelas autoridades do Campo.A desumanização era um dos principais fantasmas que rondavam os prisioneiros de Auschwitz, além da fome,do esgotamento,das doenças,e do medo de ser escolhido em um das “seleções” periódicas dos prisioneiros que seriam mortos em Birkenau,para aliviar a superlotação do campo.Ao chegarem nos campos, os prisioneiros (doravante chamados de Häftlinge) tinham suas roupas e todos os pertences levados, seus cabelos e barbas raspados, e recebiam um uniforme padrão; a partir de então passavam a levar uma vida sem nenhum tipo de individualidade onde tudo era coletivo e todos eram tratados como animais.De acordo com Levi, após todo este processo e mais algum tempo de desgaste pelo trabalho, passava a ser impossível dizer até mesmo a idade de um prisioneiro. “Tem trinta anos, porém, assim como cada um de nós, poderia aparentar entre dezessete e cinqüenta”, diz sobre um deles.

No entanto, ironicamente eram justamente aqueles prisioneiros que não se deixavam levar por esta animalização que tinham mais chances de conseguir sobreviver por mais tempo.Levi utiliza um episódio ocorrido nos lavatórios do Campo para retratar este fato. Após uma semana no capo, encontra um companheiro de Bloco lavando-se com energia.Questiona o porquê deste ato, já que em meia hora de trabalho todos estariam sujos de novo, e lavar-se não faria ninguém viver mais, possivelmente até menos,pois é uma perda de energia.O companheiro de Levi lhe passa um sermão

Limpos e aparentando saúde, os prisioneiros tinham menos chances de ser selecionados para as câmaras de gás, e mais chances de agradar algum proeminente do campo, conseguindo assim melhores postos de trabalho.Aqueles que se deixavam levar, e abatiam-se e enfraqueciam eram chamados de muselmann, ou muçulmanos, e eram em geral aqueles que adoeciam e morriam ou eram selecionados para a morte pelo gás.Levi diz que era um desses muselmann, e conseguiu sobreviver aos horrores do Holocausto devido a três motivos de pura sorte.O primeiro foi ter sido aprisionado pelos nazistas já no ano de 1944, quando, por falta de mão de obra, os alemães já haviam se decidido a prolongar a vida útil dos prisioneiros, melhorando ligeiramente suas condições de vida, e diminuindo a constância das execuções arbitrárias.O segundo foi ser possuidor de um diploma em Química, o que possibilitou que, após mais de um ano de trabalhos forçados, em condições nas quais não suportaria outro inverno, fosse convocado a trabalhar no laboratório recém aberto no campo, salvaguardando-o do frio intenso e das privações que fizeram com que vários de seus companheiros perecessem.O terceiro e último foi estar internado com escarlatina na enfermaria do campo na ocasião de sua evacuação, sendo deixado para trás junto com outros doentes á mercê dos russos, que possibilitaram sua cura.A grande maioria dos prisioneiros que deixaram o campo juntamente com os SS, simplesmente desapareceu durantes o percurso.

Outro dos conflitos mostrados se liga à inversão de valores (ou a falta deles) ocorrida no Campo, principalmente no capítulo “Aquém do bem e do mal”.Neste capítulo é explicitado como delitos como roubos eram parte importante da vida no Campo.Sem recorrer a este método, era impossível conseguir alguns objetos de primeira necessidade, como colheres para comer a sopa quase líquida que era alimentação diária dos prisioneiros.Como conseqüência dos roubos, havia também um alto nível de contrabando, sobretudo entre os prisioneiros do Campo e os trabalhadores externos da fábrica.Este contrabando era expressamente proibido pelo Regulamento do Campo resultando em punições tanto para o Häftling quanto para o trabalhador envolvido.No entanto, era altamente incentivado pelos SS, enquanto o roubo no campo, severamente reprimido por estes, era uma operação normal para os civis, numa clara amostra da inversão de valores existente.

“Em conclusão: o roubo na fábrica, punido pelas autoridades civis, é autorizado e incentivado pelos SS; o roubo no Campo, severamente reprimido pelos SS, é considerado pelos civis como operação normal de troca; o roubo entre Häftlinge, em geral, é punido, mas a punição toca, com igual gravidade, tanto ao ladrão quanto à vítima. Desejaríamos, agora, convidar o leitor a meditar sobre o significado que podiam ter para nós, dentro do Campo, as velhas palavras “bem” e “mal”, “certo” e “errado”. Que cada qual julgue, na base do quadro que retratamos e dos exemplos que relatamos, o quanto, de nosso mundo moral comum, poderia subsistir aquém dos arames farpados.” (p. 87)

No entanto, mesmo com todos estes conflitos, os prisioneiros precisavam pensar em sobreviver. Este ponto se liga com a principal teoria por detrás do livro, que diz que “a ação humana só pode ser julgada individualmente, caso a caso”. Esta mesma teoria que faz com que Levi não julgue os oficiais nazistas como um todo de bárbaros assassinos, também é utilizada em relação aos próprios prisioneiros.

Dentro do Campo, cada homem era o responsável pela sua própria salvação.Para isso, era preciso adequar-se à vida no campo. Isso muitas vezes significava ser cruel com os outros prisioneiros, conseguindo assim um nível de vida notadamente melhor do que dos demais.Este era o caso doa kapos, prisioneiros proeminentes que eram designados pelos SS como chefes dos blocos onde os prisioneiros dormiam, sendo muitas vezes os principais responsáveis pela ordem do campo e pelos castigos que a quebra desta ordem acarretavam.

Inclusive, Levi mostra que apenas lamentar-se era a pior coisa que um prisioneiro de Auschwitz devia fazer se quisesse sobreviver.No Campo, cada homem era o responsável pela sua própria salvação, e se adequar ao sistema vigente, e não se deixar abalar pela desumanização dos prisioneiros que era o principal objetivo do Campo era o melhor modo de conseguir sobreviver àquela experiência.Isto é bem mostrado no capítulo entitulado “Os submersos e os salvos”, no qual Levi analisa os casos de quatro prisioneiros que, por seus talentos no trabalho ou por suas habilidades pessoais, conseguiram permanecer no Campo sem sofrer demasiadamente.Assim, é mostrado que nem todos nos campo eram apenas vítimas desprotegidas, alguns chegando a serem mais cruéis que os próprios oficiais da SS.

Outro problema exposto por é o da memória dos acontecimentos dentro do Campo. Em vários trechos e comentado que o que acontecia dentro do campo não era para os olhos humanos verem, não era para ser sabido.No capítulo “As nossas noites”, Levi expões que era muito comum entre os prisioneiros sonhar que estavam de volta as casas, cercados por seus entes queridos, contando o que havia acontecido no ambiente do campo; mas sem que ninguém parecesse ouvi-los.

Levi põe em voga se a questão que muitos teriam, se realmente conviria que desta situação humana restasse alguma memória.Responde a esta pergunta com um sim, argumentando sobre a importância desta experiência.

“Estamos convencidos de que nenhuma experiência humana é vazia de conteúdo, de que todas merecem ser analisadas; de que se podem extrair valores fundamentais (ainda que nem sempre positivos) desse mundo particular que estamos descrevendo.Desejaríamos chamar a atenção sobre o fato de que o Campo foi também (e marcadamente) uma notável experiência biológica e social” (p.88)

Concluindo, pode-se dizer que o livro é importante por ir além da ótica geral utilizada pelos estudos sobre o Holocausto, que muitas vezes pecam ao ver os acontecimentos de forma superficial e simplista.Levi,pelo contrário, leva a interpretação dos acontecimentos a um outro nível., que apenas quem vivenciou aquelas situações poderia levar.É um livro essencial para o entendimento do Holocausto do ponto de vista do dia-a-dia dentro do Campo.

Resenha do filme “O triunfo da vontade”,de Leni Riefenstahl

“Triunfo da vontade” (no original em alemão “Triumph des Willens”) é um filme de propaganda nazista datado de 1934, documentando o congresso Partido Nazista ocorrido em Nuremberg naquele mesmo ano. É considerado o mais conhecido filme de propaganda política de história.

Sua cineasta, Leni Riefenstahl, é a mais conhecida cineasta propagandista do nazismo.São de sua autoria os mais famosos filmes produzidos por este movimento,dentre os quais Olympia,documentando os Jogos Olímpicos de verão de 1936,na Alemanha; e o aqui discutido. Várias de suas técnicas de filmagem fizeram história por serem incomuns na época,passando a posteriormente a ser usadas em larga escala em filmes, documentários, comerciais e produções cinematográficas em geral.

Os ângulos utilizados por Riefensthal servem para enaltecer a impressão de superioridade e poder que os nazistas tanto estimavam, e que tanto tentavam manter em torno de si. Closes vindos de baixo, câmeras ao nível do chão quando filmando soldados em marcha, todos esses eram artifícios usados para mostrar a imponência do Terceiro Reich.

Os aspectos mais extrovertidos e supostamente bondosos do nazismo também têm grande destaque no filme. Jovens membros da Juventude Hitlerista são mostrados se divertindo em jogos e brincadeiras que fortaleciam o companheirismo e a confiança entre eles. Moradores de cidades do interior são mostrados em desfile usando exuberantes roupas típicas, uma tentativa de resgate dos valores da Alemanha anterior à modernidade.Trabalhadores são mostrados fazendo discursos e entoando canções de apologia a união, e posteriormente sendo incentivados por Hitler a terem orgulho de sua condição.

No entanto a característica mais visível no filme é a extrema organização dos eventos nazistas. Durante as paradas os soldados marchavam sempre na mesma formação e velocidade, dando a impressão de autômatos que nunca se cansam. Durante as aparições públicas do Führer a multidão sempre se comportava e não fazia nenhum tipo de tumulto, seja em desaprovação, ou numa tentativa de ganhar a atenção de Hitler, como visto em diversos movimentos políticos. Nenhuma manifestação fora de lugar acontecia, nenhum imprevisto parecia ser tolerado.Todos estavam sempre em seus lugares e todos sabiam exatamente o que fazer durante todo o tempo.

É um filme brilhante de propaganda política, que mostra todos os aspectos que seriam considerados “positivos” do Terceiro Reich.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Oitavo Fichamento

VIZENTINI, P.F., “O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica e conceitual” In: MILMAN, L.,VIZENTINI P. Neonazismo, negacionismo e extremismo político: Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000.

  • O texto aborda diferentes questões: neonazismo, extrema direita (pois todo fascismo faz parte da extrema direita, mas nem toda extrema direita é fascista) e extremismo político (um fenômeno mais amplo).Também pontua a diferença entre um partido político, com filiados, militantes, slogans e bandeiras; um movimento político mais amplo,sobretudo um eleitorado,que na maior parte das vezes não é parte permanente destes grupos, e possui características diferenciadas; e o fenômeno das gangs,como os grupos de skinheads,verdadeiras tropas de choque.Mostra assim como nem sempre são as mesmas pessoas as responsáveis pelos movimentos neonazistas.

  • O autor divide a análise do problema em duas partes: o nascimento, expansão derrota e hibernação dos movimentos nazistas; e seu ressurgimento e o pano de fundo dos anos 80 e 90 onde isso aconteceu.

  • Em 1945, o fascismo foi derrotado, mas não eliminado.Regimes de perfil fascista, como o de Franco na Espanha e Salazar em Portugal, negociaram com as potências vencedoras e se mantiveram no poder ainda por mais 30 anos, participando inclusive (juntamente com o regime dos coronéis gregos nos anos 60 e 70) da OTAN. Por que então somos surpreendidos pelo forte ressurgimento destes movimentos?

  • Outro problema do resultado da Segunda Guerra Mundial,que permitiria uma sobrevida ao fascismo como um “bulbo que hiberna em baixo da terra”,foi o fato de que a guerra começou como uma tentativa de esmagar tudo aquilo que fosse ligado á esquerda e ao socialismo.O resultado obtido foi exatamente o contrário, salpicando diversos países de militantes comunistas.Com a posterior divisão da Europa em dois blocos liderados pelos EUA e a URSS, as particularidades de vários países não foram atendidas. Países de esquerda forte, como França, Grécia e Itália foram aderidos ao bloco capitalista. Para reconstruir o espectro político destes países e criar grandes formações de centro ou centro-direita,a estratégia usada foi

  • Com a necessidade de reconstruir a economia dos países derrotados na guerra,e com o advento do plano Marshall,nota-se um crescente abrandamento os julgamentos dos prisioneiros de guerra,sobretudo aqueles que haviam sido mais ativos na manutenção desses regimes, como no caso da família Krupp,na Alemanha.Obviamente foi feita uma inflexão no discurso, escondendo estes indivíduos atrás da bandeira do anticomunismo.Essa estratégia foi muito importante para manter a vida política nestes locais, combatendo os grandes partidos de esquerda e os sindicatos, extremamente fortes em vários destes países.

  • Houve também os casos daqueles que, por seus conhecimentos técnicos se tornaram de extrema importância para as potências emergentes, como por exemplo, Werner Von Braun, pai dos foguetes americanos, e antes disso, pai dos foguetes alemães.Houve também os regimes de solidariedade nos EUA, no Canadá e na América do Sul, que levaram vários nazistas proeminentes a se refugiar nestes locais.Alguns elementos fascistas encontraram forma de serem úteis na Guerra fria assessorando regimes obscurantistas e brutais; ou engajando-se em guerras coloniais, nas Forças Aramadas de seus países, ou como mercenários.

· A crise do petróleo nos anos 70, somada às diversas revoltas políticas no chamado Terceiro Mundo e o surgimento de alguns capitalismos bem sucedidos nestes países, fazem com que as elites e segmentos da classe média européia trocassem a simpatia que sentiam pelos países periféricos (de certa forma um tipo de “alívio da consciência de seu próprio passado) por um constante sentimento de preocupação e medo.Somando-se a isso a reorganização da economia mundial que fazia com que alguns setores do Primeiro Mundo necessitassem de mão-de-obra mais barata, e a conseqüente onda de imigração cria-se uma exacerbada xenofobia, base para o surgimento de diversos movimentos neonazistas.

· Outro fator que se torna importante nesse aspecto é o desmoronamento, na década de 70, dos regimes de caráter fascista que ainda existiam na Europa (o franquismo espanhol, Portugal de Salazar e o regime dos coronéis gregos.).Curiosamente, isto serviu como a “ponta de lança” para que a extrema direita começasse a se reorganizar abertamente.Supostamente, a existência daqueles regimes havia servido de consolo, e com o seu fim as extremas direitas de seus países vêem a necessidade de se reorganizar.

  • Durante a década de 1980, a retomada do liberalismo na economia e da Guerra Fria na política internacional trazem desemprego, incertezas e desencantos; além de uma nova ideologia enaltecedora da violência. A população européia começa a ver sua noção de progresso prosperidade e segurança ser perdida.Estas tensões sociais encontram uma válvula de espace na xenofobia e no racismo, retratada nos movimentos de hooligans e skinheads,por exemplo.

  • Na periferia exasperada pela crise econômica, pela falência do reformismo e de todos os regimes que tentaram manter-se no poder, os homens tendem a apoiar-se no passado, ressurgindo assim formas atávicas, como a restauração do Islã de um modo que nem sequer chegou a existir. Também nos estados ocidentais podemos perceber isto,embora de forma mais sutil,quando a religião passa a ser uma categoria política.

  • Com o fim da URSS e da Guerra Fria, esse processo adquire projeção geométrica, através da globalização, que produz fragmentações pelo mundo, gerando uma crise social e econômica onde as esquerdas reclamam mais da exclusão do que da exploração. Os neonazistas começam a fazer ações principalmente nos países do Leste europeu recém-saídos do comunismo.Nestes países, os últimos anos do comunismo foram negativos no âmbito econômico, e a transição para o capitalismo gerou forte desemprego, gerando um desencanto muito rápido. Assim, a extrema-direita, o nacionalismo e a xenofobia começam a surgir em países que não possuíam estruturas capazes de lidar com este fenômeno.A culpa recai sobre o comunismo.

  • A globalização causa também um enfraquecimento do Estado nacional, levando á criação de uma nova forma de nacionalismo chamada por alguns autores de micronacionalismo ou nacionalismo tribal.Começam a se recriar entidades supostamente étnicas, gerando movimentos separatistas e racistas, que abrem espaço para idéias neonazistas.Inclusive há conflitos “racistas” dentro das mesmas raças, baseados geralmente em melhores condições de vida de uma facção dentre estes grupos.

  • O risco do ressurgimento do nazismo surge no momento de hiato de pânico que estamos vivendo, entre o esgotamento, declínio e até colapso de uma ordem existente e o não conhecimento do que irá substituí-la. E em um possível amanhã, quando os temores estiverem mais acentuados, este risco poderá desencadear impulsos ainda mais graves, e será tentador procurar bodes expiatórios, assim como fez Hitler com os judeus.

sábado, 31 de maio de 2008

Resenha do filme "Arquitetura da destruição"

Neste documentário, o diretor Peter Cohen busca basicamente mostrar o projeto nazista de limpeza e embelezamento da sociedade pelo ponto de vista da arte e da cultura,ponto muitas vezes deixado de lado pelos estudiosos do nazismo.

Hitler é apresentado como um pintor frustrado, amante da ópera e com ambições de se especializar na arte da arquitetura. É mostrado como o Führer passava boa parte de seu tempo analisando maquetes de projetos de embelezamento e melhoramento arquitetônico para a futura Berlim, e para sua cidade natal na Áustria.

Hitler também era amante da ópera, principalmente de Wagner.Para ele, a obra de Wagner continha todos os princípios que a sociedade alemã devia seguir.Inclusive,teria sido uma ópera de Wagner chamada Rienzi, que Hitler assistiu quando jovem, que primeiro teria plantado a semente das idéias nazistas em sua mente.Rienzi conta a história de um líder popular na Roma medieval que lutaria contra os nobres corruptores de costume para levar ao povo romano melhores condições de vida,nos moldes da Roma antiga.Posteriormente, Hitler teria dito sobre o momento em que primeiro assistiu a peça “Foi ali que tudo começou”.

Sua fixação pela obra Rienzi (que chegou a assistir mais de quarenta vezes), se liga a outra fixação de Hitler que muito influenciou seus ideiais: a história antiga.Um de seus maiores desejos era construir prédios iguais ou superiores em beleza e imponência àqueles erigidos pelas antigas civilizações grega e romana; e que, ao serem escavados por arqueólogos em um futuro distante, fossem motivo de grande admiração.Sua fixação em história antiga também exerceram influência em suas táticas de guerra,como a destruição total das cidades de seus inimigos e a escravização de seus prisioneiros.Em alguns momentos estas estratégias colidiam com seu amor pela arte,como foi o caso de Paris, que Hitler se recusou a destruir.Afirmou no entanto,que quando a nova Berlim estivesse pronta,Paris seria apenas uma sombra.

Mas não era só no âmbito da vida particular de Hitler que a arte era importante para a ideologia nazista.De acordo com a propaganda nazista, a arte moderna era o símbolo da degeneração física e moral ligada os judeus e comunistas, que deveria ser eliminada.Comparações foram feitas pelo arquiteto nazista Paul Schultze entre obras de arte moderna e registros fotográficos de deformidades físicas.Estas comparações foram mostradas ao público através de uma exposição chamada “Arte Degenerada”.Paralelamente a esta, e antes e depois de sua ocorrência, diversas exposições mostrando exemplos de como deveria ser a “arte sadia” foram organizadas.Geralmente, o maior comprador das obras expostas era o próprio Hitler.

O documentário mostra ainda como esta influência da arte ligou-se a um padrão de estética e higiene que deveria ser seguido por todos.Há como exemplo o caso do “Beleza no trabalho”, projeto pelo qual prédios de fábricas e usinas deveriam sofrer reformas arquitetônicas a fim de serem embelezados; e aos seus funcionários deveriam ser ensinadas rígidas noções de higiene. De acordo com os idealizadores do projeto, uma vez limpos e asseados, os operários deixariam de sentir-se parte da classe proletária, identificando-se com as elites quem combatiam.Teria o fim, assim, a luta de classes.

Infelizmente, estas medidas estéticas e higienizadoras ganharam um caráter mais sombrio ao serem usadas como justificativa para a eliminação das minorias.Os judeus, dentre outros povos, foram igualados a vermes e bactérias, que deveriam ser eliminados para se atingir a saúde da sociedade.O filme mostra como Hitler chegou a ponto de se comparar ao doutor Robert Koch, descobridor do “Bacilo de Koch”, causador da tuberculose; alegando ter descoberto o vírus dos judeus e estar tomando as providências necessárias para eliminá-los.

Resumindo, o filme mostra que o projeto nazista de limpeza da sociedade não foi um projeto sem bases, ou com bases aleatórias; no entanto faz ou espectadores entenderem que o fato de ser um apaixonado por artes e pintor frustrado não faz de Hitler um ditador menos radical e cruel. Mostra que ambos os lados da moeda estavam intrinsecamente interligados no projeto nazista, um não podendo ir para frente sem o outro.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Documento especial : a cultura do ódio

Documentário sobre o neonazismo brasileiro exibido pelo SBT em 17 de setembro 1992 como parte da série "Documento Especial". Após sua exibição, a equipe do programa enfrentou um processo por (pasmem!) apologia ao nazismo, oq ue não impediu que cerca de 20 integrantes de movimentos neonazistas fossem presos devidos às denúncias veiculadas.

Carecas do subúrbio,White Power,Siegfried Ellwanger,Armando Zanine Jr. e outras "celebridades" do neonazismo brasileiro







Sexto fichamento:

PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. São Paulo, Paz e Terra, 2007. Capítulo 7

  • Embora o marco inicial do fascismo seja fácil de ser localizado, o marco final é mais complicado.O fascismo teria acabado?Haveria a possibilidade de um Quarto Reich ou algo equivalente estar sendo planejado?Existiriam condições para que algum tipo de neofascismo viesse a se tornar um agente poderoso o suficiente para exercer influência sobre as políticas de um sistema de governo?

  • A posição mais comum é de que embora o fascismo ainda esteja vivo, as condições que permitiram sua chegada ao poder deixaram de existir. Acontecimentos do pós-guerra como a globalização da economia, o triunfo do consumismo individual e o declínio da disponibilidade da guerra como instrumento político; somados ao horror que o fascismo clássico gerou, seriam suficientes para barrar o ressurgimento de algum tipo de fascismo. Ernst Nolte é o mais notório defensor desta visão. No entanto, acontecimentos da década de 1990 puseram em dúvida essa concepção.

  • Concepção do autor: acreditar ou não na possibilidade da recorrência do fascismo depende do que entende-se por fascismo.Se entendermos o renascimento do fascismo como o surgimento de algum equivalente funcional, e não uma réplica exata dos movimentos no início do século XX, essa recorrência se torna possível.Mas é preciso entendê-la através de uma comparação inteligente da forma como funciona, e não de uma atenção superficial a seus símbolos exteriores.

  • Fascismos pós 1945: Na Alemanha, quando da ocupação dos Aliados, cerca de 15% a 18% da população ainda era favorável ao nazismo.No entanto, a direita radical foi enfraquecida devido à cisões internas.

Na Itália, o Movimento Sociale Italiano (MSI) teve uma existência mais significativa por ser o único herdeiro direto de Mussolini, conseguindo alguns bons resultados diante de ameaças comunistas; entretanto continuou politicamente isolado.

Na França, os colaboradores expurgados da França de Vichy se juntaram aos anticomunistas e aos desiludidos com a fraqueza da Quarta República, incentivados pelos fracassos franceses nas guerras coloniais, principalmente na Argélia; e pela amargura dos pequenos comerciantes e camponeses oprimidos pela modernização urbana e industrial da década de 1950.

Na Grã-Bretanha a estrema direita mobilizou ressentimentos contra a imigração colonial, mas por ser mais abertamente extremista que a maioria, não alcançou sucesso eleitoral.

· Décadas de 1980 e 1990: Seria esperado que os movimentos saudosistas do fascismo diminuíssem com o fim das gerações que apoiaram o fascismo e o fim das principais organizações de extrema direita do pós-guerra; mas as mudanças nas esferas social, econômica e cultural trazidas pela crise do petróleo na década de 1970,com as quais o governos convencionais não souberam lidar, levantaram novas questões e prepararam um novo público uma segunda geração de movimentos e partidos de extrema direita