sábado, 31 de maio de 2008

Resenha do filme "Arquitetura da destruição"

Neste documentário, o diretor Peter Cohen busca basicamente mostrar o projeto nazista de limpeza e embelezamento da sociedade pelo ponto de vista da arte e da cultura,ponto muitas vezes deixado de lado pelos estudiosos do nazismo.

Hitler é apresentado como um pintor frustrado, amante da ópera e com ambições de se especializar na arte da arquitetura. É mostrado como o Führer passava boa parte de seu tempo analisando maquetes de projetos de embelezamento e melhoramento arquitetônico para a futura Berlim, e para sua cidade natal na Áustria.

Hitler também era amante da ópera, principalmente de Wagner.Para ele, a obra de Wagner continha todos os princípios que a sociedade alemã devia seguir.Inclusive,teria sido uma ópera de Wagner chamada Rienzi, que Hitler assistiu quando jovem, que primeiro teria plantado a semente das idéias nazistas em sua mente.Rienzi conta a história de um líder popular na Roma medieval que lutaria contra os nobres corruptores de costume para levar ao povo romano melhores condições de vida,nos moldes da Roma antiga.Posteriormente, Hitler teria dito sobre o momento em que primeiro assistiu a peça “Foi ali que tudo começou”.

Sua fixação pela obra Rienzi (que chegou a assistir mais de quarenta vezes), se liga a outra fixação de Hitler que muito influenciou seus ideiais: a história antiga.Um de seus maiores desejos era construir prédios iguais ou superiores em beleza e imponência àqueles erigidos pelas antigas civilizações grega e romana; e que, ao serem escavados por arqueólogos em um futuro distante, fossem motivo de grande admiração.Sua fixação em história antiga também exerceram influência em suas táticas de guerra,como a destruição total das cidades de seus inimigos e a escravização de seus prisioneiros.Em alguns momentos estas estratégias colidiam com seu amor pela arte,como foi o caso de Paris, que Hitler se recusou a destruir.Afirmou no entanto,que quando a nova Berlim estivesse pronta,Paris seria apenas uma sombra.

Mas não era só no âmbito da vida particular de Hitler que a arte era importante para a ideologia nazista.De acordo com a propaganda nazista, a arte moderna era o símbolo da degeneração física e moral ligada os judeus e comunistas, que deveria ser eliminada.Comparações foram feitas pelo arquiteto nazista Paul Schultze entre obras de arte moderna e registros fotográficos de deformidades físicas.Estas comparações foram mostradas ao público através de uma exposição chamada “Arte Degenerada”.Paralelamente a esta, e antes e depois de sua ocorrência, diversas exposições mostrando exemplos de como deveria ser a “arte sadia” foram organizadas.Geralmente, o maior comprador das obras expostas era o próprio Hitler.

O documentário mostra ainda como esta influência da arte ligou-se a um padrão de estética e higiene que deveria ser seguido por todos.Há como exemplo o caso do “Beleza no trabalho”, projeto pelo qual prédios de fábricas e usinas deveriam sofrer reformas arquitetônicas a fim de serem embelezados; e aos seus funcionários deveriam ser ensinadas rígidas noções de higiene. De acordo com os idealizadores do projeto, uma vez limpos e asseados, os operários deixariam de sentir-se parte da classe proletária, identificando-se com as elites quem combatiam.Teria o fim, assim, a luta de classes.

Infelizmente, estas medidas estéticas e higienizadoras ganharam um caráter mais sombrio ao serem usadas como justificativa para a eliminação das minorias.Os judeus, dentre outros povos, foram igualados a vermes e bactérias, que deveriam ser eliminados para se atingir a saúde da sociedade.O filme mostra como Hitler chegou a ponto de se comparar ao doutor Robert Koch, descobridor do “Bacilo de Koch”, causador da tuberculose; alegando ter descoberto o vírus dos judeus e estar tomando as providências necessárias para eliminá-los.

Resumindo, o filme mostra que o projeto nazista de limpeza da sociedade não foi um projeto sem bases, ou com bases aleatórias; no entanto faz ou espectadores entenderem que o fato de ser um apaixonado por artes e pintor frustrado não faz de Hitler um ditador menos radical e cruel. Mostra que ambos os lados da moeda estavam intrinsecamente interligados no projeto nazista, um não podendo ir para frente sem o outro.

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