segunda-feira, 2 de junho de 2008

Oitavo Fichamento

VIZENTINI, P.F., “O ressurgimento da extrema direita e do neonazismo: a dimensão histórica e conceitual” In: MILMAN, L.,VIZENTINI P. Neonazismo, negacionismo e extremismo político: Porto Alegre, Editora da Universidade, 2000.

  • O texto aborda diferentes questões: neonazismo, extrema direita (pois todo fascismo faz parte da extrema direita, mas nem toda extrema direita é fascista) e extremismo político (um fenômeno mais amplo).Também pontua a diferença entre um partido político, com filiados, militantes, slogans e bandeiras; um movimento político mais amplo,sobretudo um eleitorado,que na maior parte das vezes não é parte permanente destes grupos, e possui características diferenciadas; e o fenômeno das gangs,como os grupos de skinheads,verdadeiras tropas de choque.Mostra assim como nem sempre são as mesmas pessoas as responsáveis pelos movimentos neonazistas.

  • O autor divide a análise do problema em duas partes: o nascimento, expansão derrota e hibernação dos movimentos nazistas; e seu ressurgimento e o pano de fundo dos anos 80 e 90 onde isso aconteceu.

  • Em 1945, o fascismo foi derrotado, mas não eliminado.Regimes de perfil fascista, como o de Franco na Espanha e Salazar em Portugal, negociaram com as potências vencedoras e se mantiveram no poder ainda por mais 30 anos, participando inclusive (juntamente com o regime dos coronéis gregos nos anos 60 e 70) da OTAN. Por que então somos surpreendidos pelo forte ressurgimento destes movimentos?

  • Outro problema do resultado da Segunda Guerra Mundial,que permitiria uma sobrevida ao fascismo como um “bulbo que hiberna em baixo da terra”,foi o fato de que a guerra começou como uma tentativa de esmagar tudo aquilo que fosse ligado á esquerda e ao socialismo.O resultado obtido foi exatamente o contrário, salpicando diversos países de militantes comunistas.Com a posterior divisão da Europa em dois blocos liderados pelos EUA e a URSS, as particularidades de vários países não foram atendidas. Países de esquerda forte, como França, Grécia e Itália foram aderidos ao bloco capitalista. Para reconstruir o espectro político destes países e criar grandes formações de centro ou centro-direita,a estratégia usada foi

  • Com a necessidade de reconstruir a economia dos países derrotados na guerra,e com o advento do plano Marshall,nota-se um crescente abrandamento os julgamentos dos prisioneiros de guerra,sobretudo aqueles que haviam sido mais ativos na manutenção desses regimes, como no caso da família Krupp,na Alemanha.Obviamente foi feita uma inflexão no discurso, escondendo estes indivíduos atrás da bandeira do anticomunismo.Essa estratégia foi muito importante para manter a vida política nestes locais, combatendo os grandes partidos de esquerda e os sindicatos, extremamente fortes em vários destes países.

  • Houve também os casos daqueles que, por seus conhecimentos técnicos se tornaram de extrema importância para as potências emergentes, como por exemplo, Werner Von Braun, pai dos foguetes americanos, e antes disso, pai dos foguetes alemães.Houve também os regimes de solidariedade nos EUA, no Canadá e na América do Sul, que levaram vários nazistas proeminentes a se refugiar nestes locais.Alguns elementos fascistas encontraram forma de serem úteis na Guerra fria assessorando regimes obscurantistas e brutais; ou engajando-se em guerras coloniais, nas Forças Aramadas de seus países, ou como mercenários.

· A crise do petróleo nos anos 70, somada às diversas revoltas políticas no chamado Terceiro Mundo e o surgimento de alguns capitalismos bem sucedidos nestes países, fazem com que as elites e segmentos da classe média européia trocassem a simpatia que sentiam pelos países periféricos (de certa forma um tipo de “alívio da consciência de seu próprio passado) por um constante sentimento de preocupação e medo.Somando-se a isso a reorganização da economia mundial que fazia com que alguns setores do Primeiro Mundo necessitassem de mão-de-obra mais barata, e a conseqüente onda de imigração cria-se uma exacerbada xenofobia, base para o surgimento de diversos movimentos neonazistas.

· Outro fator que se torna importante nesse aspecto é o desmoronamento, na década de 70, dos regimes de caráter fascista que ainda existiam na Europa (o franquismo espanhol, Portugal de Salazar e o regime dos coronéis gregos.).Curiosamente, isto serviu como a “ponta de lança” para que a extrema direita começasse a se reorganizar abertamente.Supostamente, a existência daqueles regimes havia servido de consolo, e com o seu fim as extremas direitas de seus países vêem a necessidade de se reorganizar.

  • Durante a década de 1980, a retomada do liberalismo na economia e da Guerra Fria na política internacional trazem desemprego, incertezas e desencantos; além de uma nova ideologia enaltecedora da violência. A população européia começa a ver sua noção de progresso prosperidade e segurança ser perdida.Estas tensões sociais encontram uma válvula de espace na xenofobia e no racismo, retratada nos movimentos de hooligans e skinheads,por exemplo.

  • Na periferia exasperada pela crise econômica, pela falência do reformismo e de todos os regimes que tentaram manter-se no poder, os homens tendem a apoiar-se no passado, ressurgindo assim formas atávicas, como a restauração do Islã de um modo que nem sequer chegou a existir. Também nos estados ocidentais podemos perceber isto,embora de forma mais sutil,quando a religião passa a ser uma categoria política.

  • Com o fim da URSS e da Guerra Fria, esse processo adquire projeção geométrica, através da globalização, que produz fragmentações pelo mundo, gerando uma crise social e econômica onde as esquerdas reclamam mais da exclusão do que da exploração. Os neonazistas começam a fazer ações principalmente nos países do Leste europeu recém-saídos do comunismo.Nestes países, os últimos anos do comunismo foram negativos no âmbito econômico, e a transição para o capitalismo gerou forte desemprego, gerando um desencanto muito rápido. Assim, a extrema-direita, o nacionalismo e a xenofobia começam a surgir em países que não possuíam estruturas capazes de lidar com este fenômeno.A culpa recai sobre o comunismo.

  • A globalização causa também um enfraquecimento do Estado nacional, levando á criação de uma nova forma de nacionalismo chamada por alguns autores de micronacionalismo ou nacionalismo tribal.Começam a se recriar entidades supostamente étnicas, gerando movimentos separatistas e racistas, que abrem espaço para idéias neonazistas.Inclusive há conflitos “racistas” dentro das mesmas raças, baseados geralmente em melhores condições de vida de uma facção dentre estes grupos.

  • O risco do ressurgimento do nazismo surge no momento de hiato de pânico que estamos vivendo, entre o esgotamento, declínio e até colapso de uma ordem existente e o não conhecimento do que irá substituí-la. E em um possível amanhã, quando os temores estiverem mais acentuados, este risco poderá desencadear impulsos ainda mais graves, e será tentador procurar bodes expiatórios, assim como fez Hitler com os judeus.

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